quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Impossível ensinar o que não se sabe, simples assim!


    O Processo Nardes, numa parceria com a Ufrgs, mais exatamente com o Colégio de Aplicação,  mantem no Campus do Vale um curso regular de Teoria Musical que acredito ser o único no Estado funcionando nestes termos; a prática é derivada de uma compreensão epstemológica do que é Música. No último semestre, abrimos 30 vagas e recebemos mais de 500 inscrições, de gente das graduações, de alunos do Aplicação, de pessoas da Federal de Santa Maria e de Pelotas e até uma menina de Ijuí, que não veio porque Ijuí é longe pacas de Porto Alegre..
                Me impressiona sobretudo dois aspectos  do perfil e interesse destes inscritos – só conseguimos atender os 30 que prometemos, por falta de espaço e logística de tempo. O primeiro aspecto é que existe uma demanda imensa por educação musical. Alunos de 12 anos e alunos de 70, universitários e gente já formada e gente de pouca instrução, gente com grana e sem grana – o curso funciona com uma contribuição de 10 reais/mês, que fica com o Aplicação para uso geral da escola; o Processo ministra este curso sem ganho algum – enfim, não existe um perfil definido de aluno mas sim, creio eu, um interesse comum em aprender. 
                O segundo aspecto que me chama a atenção é que alunos que já fizeram aula de Música antes de tomar conhecimento do Processo se impressionam muito mais com as aulas do que aqueles que nunca tiveram nenhuma instrução prévia em Música. Me pergunto então; não deveria ser o contrario? Aqueles que já têm algum conhecimento deveriam entender mais rápido o que digo, ensino e demonstro não é? E os leigos, os néscios, os  que se iniciam na Música pelas mãos do Processo é que deveriam não digo nem se deslumbrar mas demonstrar surpresa ou aquele olhar brilhante de quem está finalmente entendendo alguma coisa importante e até aquele momento desconhecida. Por estranho que pareça, não é isso que acontece, não.
                 Para quem parte do zero absoluto tudo é normal; os alunos iniciantes se impressionam sim, mas não com os Protocolos de Acento – nome de um de nossos três eixos de exercício – mas com a percepção de que a Música está acontecendo em suas mentes e que aquilo que eles querem aprender lhes está sendo ensinado; aprender o fazer musical. Já os que chegaram até nós depois de uma instrução prévia, em 100% das vezes ficam primeiro desconfiados, e conforme lhes ensino e desenvolvo os primeiros exercicios, por força das evidências demonstradas em aula, começam a me dar um pouco de crédito, e depois vem o que os alunos veteranos do Processo chamam de ressaca; o momento em que o aluno começa a pensar no porque tais e tais professores não lhes ensinaram isso e aquilo, e porque não lhes disseram que era assim tão mais fácil, tão mais simples, e porque tais e tais professores contaram tantas mentiras e distorções em vez de simplesmente admitirem que não sabiam explicar ou, como realmente é muito comum no meio musical, por que o professor não disse que sabia fazer mas que não sabia explicar.
                Em termos de conhecimento objetivo, verificavel, o saber fazer não é saber, isso porque para mim, Sérgio Nardes, se cada aluno não for capaz de replicar o que sabe, isso significa que fracassei como professor; só se professa aquilo que se acredita, e só se acredita naquilo que se sabe, ou não? ou alguém aí acredita em algo que não sabe? Pois é... O aluno é alguém especial, o aluno que está querendo, se dispondo e se colocando em minhas mãos para aprender Música é um tesouro, é uma jóia, é uma força querendo se manifestar, o aluno de Música, para mim, é a coisa mais importante do mundo, e ensinar Música é o que dá sentido a minha vida, e não entendo a falta de paixão destes professores que em vez de colegas, de outros musicistas com eles mesmos, formam copiadores, formam macaquinhos que repetem e repetem e repetem, sem nunca serem sabedores, senhores do fazer musical que lá atrás, no seu primeiro movimento de procurar aula, queriam ser.
                A estes professores, quero dizer que a culpa é SEMPRE de vocês. O aluno nunca é culpado, e se ele – o aluno - levanta a bunda sai de casa para ter aula, só isso, somente este pequeno movimento, este pequeno empenho de energia, isso é tudo o que é preciso para fazê-lo aprender. Vou repetir para que não haja dúvida sobre a minha posição; o mau aluno é sempre culpa do seu professor, sempre, sempre, sempre. Alguns professores tentam se defender dizendo que não dá pra ensinar mais seriamente para um aluno que já chega em aula querendo tocar esta ou aquela música, ou que o aluno já chega em aula querendo tocar músicas e não estudar técnica. Mas essa afirmação é de uma estupidez exemplar, porque pressupoe que o aluno – que chega em aula sem saber o que é música e sem saber como se aprende e sem saber do que a Música é feita, sem saber nada, caralho, afinal é por isso que ele está na tua frente querendo aprender! vai ter mais força de argumento e de vontade do que o professor – que em principio estudou muitos anos em grande parte das vezes cursou a Universidade, para decidir o que e como estudar; ora, senhores, falem serio, a verdade é que vocês são incompetentes e não conseguem ensinar aquilo que nem vocês sabem, simples assim. As inscrições para a turma de 2012/1 abrem em meio de fevereiro e a divulgamos pelos congrads e em todas as listas a que temos acesso; matriculem-se e se reciclem, antes que os seus alunos batam nas suas portas querendo satisfação e o dinheiro de volta. Inteligência – e transparência - em Música, já!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O nome do Blog


O nome do blog é uma piada interna, me nomeando como alguém que professa a Música como se ela fosse uma religião e eu seu sacerdote. Deliberadamente me coloco, me insiro no Real como quem sabe o que é Música, como quem sabe relacionar-se com ela e, provocadoramente como alguém que se acha tão pleno, tão cheio de certeza do que ela seja, como as pessoas costumam fazer com o mito da divindade; a versão imaginaria de cada um ingenuamente é sempre a versão correta. 
    Neste meu pequeno provocamento, sempre pesco os que têm com a Música uma relação ideológica, estética, religiosa até; eles se enraivam ou se magoam - acredite, as pessoas se magoam com isso - e entram numa discussão estranha onde parece não que tenho uma opinião diferente das suas sobre a Música enquanto coisa mas sim que falei mal das suas mães, dos seus pais. Em algumas situações é como se eu estivesse com minha posição - sobre o que eu penso ser Música enquanto fenômeno - agredindo o próprio interlocutor. Como acredito, for força do meu estudo - tanto o que realizo quanto o que, durante 2 décadas não realizei -  e das toneladas de evidências empíricas, fenomenológicas e matemáticas que percebo o tempo todo que a Música não tem nada, absolutamente nada de subjetivo, basta alguns minutos de conversa e invariavelmente "converto" meu antagonista, salvo nos casos em que ao concordar com meus argumentos o próprio significado do que é Música se transforma e o indivíduo da-se conta de que o que ele achava que era Música, na verdade não era. É muito triste quando isso acontece, e sei que muita gente hostiliza o Processo porque não consegue lidar com o fato de que manteve com a Música uma relação errada, pequena, obscurantista e emocional e que essa relação foi não a causa de uma plena vivência com o fazer musical mas exatamente o oposto; estudar Música entendedo-a como algo mais do que categorias matemáticas, fenomenologia Física e estudo do equilíbrio é um armadilha fatal na formação do Musicista.
    Preciso deixar claro que sempre, em qualquer coisa que eu diga ou escreva, é o estudo da Música enquanto ação no mundo sensível que me interessa, são os meios epistemológicos que possibilitem mais e mais pessoas acessar o fazer musical que me interessa e não o uso que estas pessoas farão do conhecimento, que é sempre um fim em si mesmo. Colocando de outra maneira, quero formar musicistas e não estetas, e quando retiramos da Música o que não é objetivo,  o que não é verificável, quando a estudamos partindo do eixo que organiza em nosso cérebro a subdivisão, o tamanho e organização formal dos acentos e o estudo cinesiológico que é necessário para realizar, para manipular os dispositivos mecânicos de produção sonora  - popularmente chamados de instrumentos musicais - todo o estudo fica fácil, o significado da Musica -enquanto coisa que se quer saber e manipular - se clareia, ninguém mais se assusta com tirar música de ouvido e nem com solfejo a primeira vista, ninguém mais perde o ritmo e nem a afinação, todo mundo improvisa e sobretudo, para a minha grande alegria, o fazer musical se torna acessível a todas as pessoas. Os únicos pré-requisitos para ser um estudante ativo da Música é saber caminhar - é isso aí, o ritmo é um derivativo do equilíbrio e os malabaristas e mímicos estão deixando de abrir seu leque de serviços tocando tambor - e possuir o sotaque da lugar onde vive - a entonação de nossa fala sai da mesmíssima matriz que nossa afinação; em línguas tonais como o chinês, a incidência de pessoas com o ouvido absoluto é significativamente maior do que em línguas não tonais.
    O Processo multiplica por mil a quantidade de pessoas que podem aprender e se relacionar com a Música, e isso rapidamente e com um quantum de conhecimento agregado simplesmente gigante, por profundo e por amplo, mas o preço a pagar é que toda a visão idílica (do efeito emocional), ideológica (paciência, o Bob Dylan musicista tem problemas de ritmo e afinação, sim) estética (os melhores musicistas do Brasil tocam nos estilos mais vilipendiados e desmerecidos pelos pseudointelectuais da Música e não ha nada que se possa fazer; ser um contrabaixista elétrico e viver apenas tocando baixo prescinde que o musicista em questão entenda muito de sertanejo e pagode, no mínimo) se desmancha feito fumaça. Alguns não pagam o preço dessa consciência - de uma maneira parecida com que se nega a morte e a finitude -  e preferem continuar fazendo de conta, vivendo num mundo de fantasia técnica e ideológica - o erudito e o popular, o ouvido e a pauta, o punk e o rock and roll, o sertanejo e a MPB, etc, etc, etc -  mas parafraseando os seguidores do mito de Jesus que dizem ser importante ouvir a palavra do messias apenas uma vez e o resto é entre  o deus e o ouvinte, faço a minha parte pelo bicho homem e digo " cara, esse negócio é bem mais fácil do que isso, e dá para tu tocar tudo isso que tu não consegue fazer agora,  só que a "coisa que tu estás estudando não é Música". Se o cara não me dá atenção - entenda-se testar o que eu digo - sigo em frente; com os que querem aprender a qualquer custo - como se consciência fosse um custo e não um ganho, né?... - já tenho diversão e trabalho para toda a vida. Inteligência no estudo da Música, já!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Apresentação


                Meu nome é Sérgio Nardes e sou o criador do Processo de educação musical que leva meu nome. No Processo Nardes todos os conteúdos, mesmo aqueles tidos como absolutamente subjetivos, emocionais e aleatorios são estudados, investigados, testados e executados partindo de categorizações, de ordenamentos e análise matemática. Tenho ainda algum receio em descrever o Processo nestes termos porque as pessoas, grosso modo, têm um certo porém com a palavra matemática, mas afianço que a matemática que utilizamos não passa do numero 10 e trabalha apenas divisão simples e um pouco de geometria, basicamente noção de quadrado e de triângulo ; crianças apenas alfabetizadas já têm condição de cumprir o Processo (¹).
                Em linhas gerais, o Processo é uma ferramenta de musicalização muito rápida e muito profunda,  sendo holística e anterior ao instrumento que o aluno aprenda – o instrumento, dentro do Processo, nunca é o fim mas sempre um dispositivo mecânico onde o conhecimento musical é exercitado, calculado e investigado, uma variavel que cada aluno pode ou não escolher desde o começo do cumprimento. Praticamente todos os alunos do Processo acabam por se interessar por mais de um instrumento; depois de um semestre de estudo fica claro que diferentes instrumentos de geração de som funcionam segundo principios mecânicos distintos, e isso é suficiente para que o estudante se interesse pelo novo instrumento, e ao contrario do que diz o mito, isso não tira foco de estudo e muito menos atrapalha no aprendizado, antes o contrario; alunos mais distintos, os que mais rapidamente aprendem e investigam são os que instrumentalmente são mais promíscuos, além do que o Processo enfaticamente incentiva seus alunos a relacionar-se com a Harmonia já no primeiro semestre de cumprimento dos Protocolos, o que implicará que ele procure instrumentos harmônicos por vontade propria.
                O Processo instiga o aluno a sempre experimentar formas novas de produção sonora, isso porque o proprio fenômeno físico da produção do som – percutido, friccionado ou soprado -  é assunto e materia constante do estudo. Todos os alunos cantam e todos executam padrões de acento e subdivisão com o proprio corpo. Desde a primeira aula o aluno já divide internamente mais do que aquilo que solfeja ou toca, o que agrega disciplina ritmica e acabamento fraseológico. Como fica evidente mesmo em Workshops de 40 minutos, o Processo musicaliza pela consciência e categorização matemática, sempre partindo do ritmo e timbre, e nunca, absolutamente nunca da afinação(²).
                O Processo está acontecendo desde 2010, tanto com alunos particulares quanto no Curso de Teoria Musical que ministro no Capus do Vale, atendendo aos alunos do Ensino Medio egressos do Colégio de Aplicação e os alunos das muitas Graduações que a Universidade Federal sedia lá, valendo o semestre como crédito. Tive no ano de 2011 uma experiência em utilizar o Processo dentro de escolas  particulares de Música, mas o desconhecimento dos professores sobre conteúdos fundamentais em Música somado ao engessamento que – aparentemente -  o ensino acadêmico gera, e mesmo fatos bizarros como o de uma menina de 10 anos que cumprindo o Processo em paralelo com a aula de bateria em dois meses já possuia controle das baquetas – inclusive rufos em 5, 7 e 9, maior do que o do seu professor, percebemos que professores lecionando em modelos normais de ensino se constrangem  com a velocidade dos resultados – e sobretudo com alguns mitos de dificuldade de ensino que o Processo desmonta -  e muitas vezes lidam mal com isso. De maneira que apesar de o Processo ser mais rápido, mais evidente em seus resultados, mais simples de aplicar e mesmo mais facil de ser verificado pela direção de uma instituição particular de ensino de música, ainda estamos procurando uma escola parceira para ser nosso ponto piloto de instalação no ensino privado. Alguns professores, entretanto, além de cumprirem o Processo o estão replicando nos seus proprios alunos. Acredito que umas 200 pessoas neste momento, estão diretamente envolvidas com o cumprimento do Processo, e indiretamente esse número pode ser o dobro disso. É muito pouco para 2 anos, reconheço, mas o Processo é dinâmico e muitas coisas que hoje consigo fazer – como ensinar os musicistas como funciona um arco, e sobretudo o que é que se deve desenvolver na sua interação mecânica com o arco por exemplo, a um ano atrás eu conseguia fazer mas não conseguia explicar, o que para o Processo é o mesmo que não saber; em nosso entendimento conhecimento, todo ele, é sempre crença justificada, e o saber fazer sem saber o que é o fazer enquanto fenômeno, pedagogicamente não nos é de grande utilidade. Além disso, entendemos que somente uma didática clara, com enunciados sintéticos e verificáveis pode resultar em alunos musicalmente inteligentes, corajosos e instigadores. Meus alunos levam para casa temas epstemológicos e não coleções de exercícios cegos para um repetição infinita.
                Estsou coligindo material em video – aulas e palestras, sobretudo  - além dos testemunhos, relatos escritos, alguns deles já constantes no site, e conteúdo didático produzido por mim; tenho um contato para a edição de um Método, mas acredito que ainda é cedo para isso, e estou escrevendo o roteiro para um documentário sobre o ensino de Música no Estado do Rio Grande do Sul. O Processo Nardes tem um potencial gigantesco para uso em Projetos Sociais (porque instrui e mostra resultados muito rapidamente), em orquestras de estudantes (porque faz o aluno musicista baixar seu próprio filtro de resultados já na primeira aula por sua propria iniciativa e consciência)  e mesmo no nivelamento técnico de musicistas já profissionais. (3)
                     

1 - Um de nossos focos de pesquisa com musicalização infantil, realizado por minha esposa em uma pre-escola modelo tem nos demonstrado que crianças de 4 anos já são capazes de construir pulsação e subdivisão, inclusive utilizando instrumentos percursivos, mas a capacidade de entonação e evidentemente de escrever e ler signos ainda é incipiente, razão pela qual o Processo prescinde de alunos alfabetizados. Como essa formação escolar da-se entre os 6 e 7 anos, o ouvido tonal já está suficientemente desenvolvido, junto com a capacidade de ler e escrever signos gráficos.
2 – Por mais impressionante que seja, a realidade hodierna do ensino musical no Estado ensina notas e não ritmo em primeiro lugar, o que é um contrasenso de causalidade física; o “onde” da nota afinada não vale muito se o “quando” da nota não está previamente claro, e esse é um erro de formação que vai desde os projetos de musicalização infantil grassando uma deficiente consciência ritmica mesmo em musicistas mestres e doutores.
3 – Novamente aqui a preocupação com clareza e veracidade do relato se chocam, receio eu, com uma possível compreensão de que o Processo é mais complicado e portanto mais inacessível ao comum das pessoas; essa impressão, caso se dê, desmancha-se em apenas alguns minutos de uma demonstração do Protocolo dos Acentos. Alguns alunos comentam que é incrível ninguém haver pensado neles antes, por simples, óbvios e mesmo já intuidos por muitas pessoas apenas diletantes no estudo da Música. Honestamente não sei como é que ninguém pensou nisto antes e a hipótese mais inteligente que consegui formular é que o Processo não seja uma coisa nova mas sim uma organização estrutural do fenômeno da Música enquanto objeto de estudo que utiliza ferramentas já existentes mais ainda não ligadas nos termos em que o Processo o fez.